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Futebol feminino e seus desafios dentro e fora dos campos

Tempo de leitura: 12 minutos

Imagine 10 jogadoras de futebol feminino. Quantas você consegue nomear? Talvez seja difícil chegar a cinco. Infelizmente, isso pode ser um reflexo de uma sociedade que historicamente subestima o potencial das mulheres no esporte. 

Desde 1966, a igualdade entre homens e mulheres é reconhecida como um direito humano. No entanto, enquanto vemos avanços em várias áreas em direção à igualdade de gênero, o futebol feminino ainda luta por visibilidade e reconhecimento.

Apesar de alguns progressos ao longo dos anos, as mulheres ainda enfrentam obstáculos para garantir seu lugar nos campos, tanto dentro quanto fora deles. A realidade é que o mundo do esporte sempre esteve distante para as figuras femininas. Mesmo em meio às mudanças sociais, o futebol continua sendo um dos segmentos que mais enfrentam dificuldades no que diz respeito à igualdade de gênero.

Uma pesquisa da Revista EFDeportes apontou que 100% das jogadoras entrevistadas já enfrentaram algum tipo de preconceito na modalidade. Esse ambiente de exclusão não apenas desfavorece as jogadoras, mas também afeta jornalistas esportivas, torcedoras e árbitras. 

Neste artigo da AMIG, exploraremos como a proibição histórica do futebol feminino vai além das restrições no campo, representando, na verdade, uma forma de restringir sua ocupação de espaços.

 

Uma volta histórica pelo futebol feminino

O futebol feminino tem uma história muito mais curta do que a do masculino e é marcada por décadas de proibições e desafios que moldaram sua trajetória desde o século XX. 

Em 1941, durante o governo de Getúlio Vargas, o Decreto-Lei 3.199 proibiu a prática de diversos esportes por mulheres, incluindo o futebol, estendendo-se até 1979. Apenas em 1983, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) regulamentou oficialmente o futebol feminino no país, permitindo sua participação.

Enquanto a seleção masculina brasileira já havia conquistado seu tricampeonato na Copa do Mundo em 1930, a primeira Copa do Mundo de Futebol Feminino aconteceu apenas em 1991. Essa demora na autorização do futebol para mulheres foi alimentada por discursos médicos e sociais que consideravam o esporte prejudicial ao corpo feminino, associando-o à ideia de que as mulheres deveriam se dedicar exclusivamente à maternidade. 

O medo de que o futebol modificasse o corpo feminino, tornando-o mais masculino, contribuiu para a manutenção das proibições. Mesmo diante das restrições, o futebol feminino continuou a crescer globalmente, muitas vezes praticado de forma clandestina. No Brasil, partidas eram realizadas como eventos beneficentes para contornar as restrições impostas pelo Conselho Nacional de Desportos.

A proibição do futebol feminino por tantos anos não apenas atrasou seu desenvolvimento, mas também contribuiu para a persistente disparidade entre o futebol masculino e feminino, levando a comparações injustas com o futebol masculino do passado. O desequilíbrio persistente entre os dois gêneros certamente se deve ao fato de que, por 40 anos, as mulheres foram proibidas por lei de jogar bola.

Apesar das adversidades, progressos importantes foram alcançados, como a inclusão do futebol feminino nos requisitos de licenciamento de clubes e a garantia de direitos básicos, como a licença maternidade, pela FIFA. Entretanto, esses avanços representam apenas o início de uma longa jornada em direção à igualdade plena. A defasagem histórica enfrentada, exige um compromisso contínuo para superá-la.

 

A inviabilização do acesso ao esporte 

O assédio nas arquibancadas é uma realidade lamentável que muitas mulheres enfrentam. A falta de respeito pela presença feminina nos estádios não apenas afeta a experiência das mulheres, mas também desencoraja sua participação no mundo esportivo.

No entanto, o preconceito e o assédio não se limitam apenas aos estádios. Casos em todo o mundo refletem a difícil realidade enfrentada por elas que estão envolvidas no esporte, inclusive no Brasil. Um exemplo recente ocorreu em 2021, quando as acusações de assédio moral e sexual abalaram a liga de futebol feminino dos Estados Unidos, uma das mais renomadas do mundo. Entre os dez clubes participantes do campeonato, cinco foram alvo de denúncias que resultaram em demissões ou afastamentos de treinadores, envolvendo não apenas assédio, mas também casos de racismo e discriminação LGBTQIAP+. 

Além disso, a falta de profissionalização do futebol feminino no Brasil é outro problema que merece atenção séria. A maioria das equipes não oferece contratos profissionais às suas jogadoras, o que se traduz em salários irrisórios e condições de trabalho precárias. 

Outro ponto é que a representação feminina em cargos de liderança e gestão no esporte ainda é extremamente limitada. Embora a Lei Geral do Esporte tenha trazido avanços, como a exigência de uma participação mínima de mulheres em cargos diretivos nas entidades esportivas, ainda há um longo caminho a percorrer para garantir que as mulheres tenham as mesmas oportunidades de progresso profissional que os homens. 

 

A falta de incentivo começa na infância

O preconceito não se limita ao âmbito esportivo; ele está enraizado na sociedade em diversos setores. A cultura persistente de desigualdade reflete-se no tratamento dado ao futebol feminino, que foi concebido e voltado predominantemente para o público masculino. 

Para se ter uma ideia, uma pesquisa do Ministério dos Esportes de 2015 revelou que meninos começam a praticar esportes aos 5 anos, enquanto as meninas só começam aos 11, evidenciando que o incentivo à atividade esportiva é muito tardia na infância feminina, por isso existe a necessidade de combater essa desigualdade desde cedo.

 

A importância da visibilidade e do apoio financeiro ao futebol feminino

A importância da visibilidade e do apoio financeiro ao futebol feminino é incontestável. A falta de exposição tem sido um grande obstáculo para o seu desenvolvimento. Quando as mulheres têm igualdade de oportunidades para serem vistas, elas têm mais chances de atrair patrocínios e apoio financeiro. 

Entretanto, a cobertura midiática do futebol feminino ainda é consideravelmente inferior à do masculino, restringindo suas oportunidades de crescimento e sucesso. No Brasil, apenas 2,7% da cobertura midiática é dedicada ao futebol feminino – o que destaca a clara falta de espaço nos meios de comunicação.  

No entanto, o esporte feminino tem ganhado reconhecimento e direitos gradualmente. Em 2022, o público feminino alcançou recordes em todo o mundo, incluindo o Brasil. A Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino, sediada na Austrália e na Nova Zelândia, foi a maior de todos os tempos, assistida por 63,2 milhões de brasileiros. A Cazé TV, que hoje conta com 12,5 milhões de inscritos,  transmitiu todos os 64 jogos, alcançando 24 milhões de dispositivos.

O Campeonato Brasileiro feminino de 2024 é um exemplo claro desse progresso, com um investimento recorde de R$ 25 milhões e um aumento significativo na premiação. Além disso, o envolvimento de 55 patrocinadores demonstra o crescente reconhecimento da importância do futebol feminino no cenário esportivo nacional.

 

O papel das marcas para a ascensão do futebol feminino

A Copa do Mundo Feminina de Futebol contribuiu significativamente em termos de visibilidade e audiência. À medida que o esporte cresce em popularidade globalmente, as marcas e empresas estão reconhecendo o potencial de mercado oferecido por ambos os gêneros.

Como não lembrar da campanha “Veio Pra Ficar” da Avon, em parceria com a jogadora Marta, promovendo o batom Power Stay. Durante as partidas, Marta demonstrava a qualidade do produto. Com o sucesso da ação, o futuro da comunicação visual exige mais do que simplesmente uma campanha superficial; é essencial contar uma história, agregar valor e mostrar um propósito por trás do conteúdo.

Hoje em dia, patrocinar um evento ou equipe não é algo meramente decorativo, é uma jogada estratégica que exige total envolvimento e habilidade para agregar valor à marca. Não basta simplesmente colocar um influenciador na jogada para atrair olhares para a sua campanha; é crucial entender o que realmente mexe com o seu público-alvo.

Olhando para o histórico do patrocínio da Copa do Mundo Feminina de Futebol, felizmente houve uma evolução ao longo dos anos. No início, o apoio financeiro era praticamente nulo, com poucas marcas percebendo o verdadeiro potencial do torneio. Mas foi lá em 1999 que tudo começou a mudar. Aquela edição foi um divisor de águas, trazendo mais visibilidade, aumento da audiência e interesse global.

A partir desse momento, gigantes multinacionais passaram a investir pesado no futebol feminino nos últimos anos, injetando mais recursos e promovendo melhorias. Com o patrocínio, a organização do torneio foi fortalecida, permitindo à FIFA investir em infraestrutura, transmissão, marketing e, claro, no desenvolvimento do próprio futebol feminino. E com mais apoio financeiro veio a consequência natural: prêmios em dinheiro mais atrativos, atraindo talentos e elevando o nível do jogo para patamares ainda mais altos.

Os avanços no futebol feminino no Brasil indicam um futuro promissor, embora gradual. Para promover a modalidade, é essencial a colaboração entre todos os envolvidos, desde as atletas até os profissionais da indústria e os meios de comunicação. A luta continua, dentro e fora dos campos, visando tornar as conquistas das mulheres no esporte não apenas extraordinárias, mas também esperadas.

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